Às vezes, fico incomodada ao pensar no quanto somos obcecados por números. Não é sobre a lição de Black Mirror, e nem mesmo sobre a composição de Humberto Gessinger. É sobre, por exemplo, medir o sucesso. Sobre como enchemos a boca pra dizer que preferimos qualidade a quantidade, mas, se apareceu pouca gente, concluímos que o evento foi um fracasso, e se lotou, foi ótimo.
Falamos em números o tempo todo: muito, pouco, maioria, minoria, uma galera, nenhum pé de gente. Avaliamos tudo pela nossa própria régua, e na nossa régua, sempre tem números. "Somos mais de um milhão!" - Bradamos, para legitimar vontades individuais num coletivo que as apoia e confirma. Como se uma voz sozinha não valesse nada. Estamos, equivocadamente, acostumados a perder por voto vencido, e ganhar pelo discurso majoritário.
Quando eu era criança, ouvi uma história que me marcou muito:
Certo dia, houve um grande incêndio na floresta, e todas as áreas foram cercadas por um fogo denso. Os animais, atônitos, não sabiam o que fazer e nem para onde correr.
De repente, todos pararam e viram que o beija-flor ia até a margem do rio, mergulhava, pegava em seu bico algumas gotas de água, voava até o fogo e deixava a gotinha cair sobre as labaredas. O elefante, vendo aquilo, disse-lhe: “Você está louco? Acredita que esta simples gota pode apagar um incêndio tão grande?”. Ao que o passarinho respondeu: “Eu estou fazendo a minha parte, e se todo mundo ajudar, com certeza conseguiremos alguma coisa”. Envergonhado, o elefante começou a ajudar, o que chamou a atenção de outros animais, e logo todos se uniram e conseguiram salvar a floresta.
Se algum dia você for ridicularizada(o) por fazer parte de um grupo pequeno
Se algum dia você se sentir sozinha(o)
Se algum dia você olhar ao seu redor e achar que não vale a pena
Lembra do beija-flor. É verdade, ele não conseguiria apagar o incêndio sozinho. Mas o seu exemplo fez toda a diferença.
Um é o único número que importa. Porque, muitas vezes, é só isso que basta.
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