quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Quem precisa de auto-crítica?

2016. Dois anos atrás. O prefeito de São Paulo mandou “desfavelizar” os espaços públicos. A Guarda Civil recolheu papelões e cobertores dos moradores de rua na capital paulista. Ninguém lembra? Eu lembro porque fiquei horrorizada.

- Não é o prefeito de São Paulo aquele cara do PT?
- Isso mesmo, Fernando Haddad.
- Oxe! E por que ele ‘tá’ fazendo isso?
- Quem sabe?!

Não me recordo de outros episódios assim tão chocantes, nem de detalhes dessa gestão petista em SP, mas lembro que foram várias críticas ao cabra, a ponto de ter perdido pro Dória quando tentou reeleição. Mesmo que, por intenções eleitoreiras, tenha tentado passar pano pra golpista dizendo que “golpe é uma palavra muito dura”. Ninguém lembra disso? Golpe, pra mim, é quando a democracia é desrespeitada.

2018. Haddad faz campanha com Calheiros e Eunício de Oliveira, peças-chaves que deixaram o golpe passar. Ninguém viu? Ninguém percebeu o quanto Haddad se afastou de Dilma e se vestiu de Lula?


Tá, agora vamos voltar pra época do impeachment. Porque esse texto aqui é pra falar sobre Ciro Gomes. Faz o favor de pesquisar aí no Google, no Youtube, onde quiser: “Ciro Gomes sobre impeachment”. Não tem tentativa de amenização, o que tem é Ciro chamando Michel Temer de golpista filho da puta com todas as letras. Tem Ciro defendendo a democracia e denunciando o golpe em programas de TV, eventos, palestras, sei lá, onde deu.
Será que alguém lembra que o Ceará foi um dos estados que mais se opôs ao impeachment na Câmara, com votos capitaneados por Ciro? Será que alguém lembra das falas de Ciro intercedendo por Dilma?

O que Ciro recebeu em troca depois de ter defendido amplamente o país de uma ameaça à democracia brasileira quando pessoas mal intencionadas não aceitaram o resultado das urnas:

1. Ao ser perguntada sobre a possibilidade de apoio do PT a Ciro, em uma entrevista, Gleisi Hoffmann disse que Ciro não passava no PT nem com reza brava – e gargalhou.

2. Lula propôs a Ciro que ele participasse da sua chapa, como candidato a vice-presidente, já sabendo que não poderia concorrer e que teria sua candidatura impugnada. Um papelão sabiamente recusado.

3. O PT aleijou celeiros eleitorais, abrindo alas para o PSB, no intuito de evitar a aliança PDT-PSB, o que forçou Ciro a buscar apoio com Katia Abreu.
(A "tal" da Katia Abreu. Tem como gostar dela? Não! Mas será que mais alguém lembra que ela foi expulsa do PMDB por ter feito oposição ao golpe?)

4. Haddad copiou a proposta cirista “Nome Limpo”, que aliás, foi a única proposta concreta e possível dessas eleições que teve repercussão e será lembrada. 

Quem foi mesmo que chamou Bolsonaro de fascista filho da puta antes do primeiro turno? Quem foi que já estava, desde então, desmascarando o candidato do PSL? Quem disse que ele não tinha capacidade de administrar nem um "pé de budega"? Pra Haddad, no primeiro turno, parecia que Bolsonaro era um elefante branco nos debates. Essa impressão é só minha?

Segundo turno e o cenário previsível: PT sem chances de vencer. PT atacando Ciro por ter saído de cena - não apenas os eleitores petistas, mas o próprio PT! Sim, está lá no site do Partido dos Trabalhadores! PT buscando um culpado porque é incapaz de fazer a bendita auto-crítica, sugerida como estratégia política de retomada da governabilidade, por Ciro há muito tempo, por Cid, por Mano Brown.

Ciro é santo? Não! Jamais poderei concordar com sua postura de criticar os oponentes da esquerda durante o processo eleitoral, ainda mais diante do mal eminente; e muito menos com sua fala sobre o movimento Ele Não - não tem contexto que justifique!

Mas jamais acharei justo atribuir a ele uma culpa, por menor que seja, de não ter defendido a democracia, porque isso ele fez! Sua escolha foi não se aliar a um partido ou uma equipe que, por diversas situações, já demonstrou que não merece o seu apoio. Foi uma escolha, inclusive, de honrar com sua palavra de que essa coalizão não ia rolar nem com reza brava. O segundo turno foi assim, dois candidatos rejeitados, sendo que um era muito pior - portanto, voto crítico. Daí a subir em palanque e desfilar abraçando a bandeira vermelha, já são outros quinhentos.

Aliás, se eu mesma tivesse declarado o meu voto publicamente, seria com aquele tema do Facebook: "Jamais vou perdoar Bolsonaro por ter me feito votar no PT". Meu "anti-petismo" é de uma esquerdista que se sente traída pela sede de poder, pelas tentativas de prejudicar qualquer outra opção de esquerda em ascensão, pela incitação ao medo, por buscar culpados para os seus erros ao invés de encará-los e corrigi-los mesmo diante da derrota.

Haddad, apesar de tudo, apesar de não aceitá-lo a princípio, eu acabei mudando a minha visão sobre você, devido a sua postura exemplar neste segundo turno. É uma pena que você seja descartado pelo seu partido como Dilma foi. 

Agora que já acabou, agora sim!, posso perguntar: vai ter ou não a porra da auto-crítica do PT?

Recomendo a leitura desta defesa aqui, feita por uma página cirista, que vale a pena ler mesmo se você for anti-cirista convicta(o), ou cirigaita(o) de carteirinha.






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