As Livrarias Saraiva e Cultura fizeram pedidos de recuperação judicial em 2018, há poucos meses. Talvez os principais nomes do mercado editorial brasileiro. Talvez, porque não sei nada sobre esse segmento mercadológico. Mesmo assim, sendo uma completa leiga, preciso falar sobre esse tema. Então vamos.
É 'perceptível a olho nu' como mudou a relação das pessoas com os livros. E também como as mudanças culturais e tecnológicas influenciam na literatura, em si, especialmente no hábito de leitura.
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Eu quero ler um livrinho. |
As livrarias também sabem disso, é claro, e têm tentado se adequar às novas regras do jogo. Mas nós precisamos fazer nossa parte. Nós, enquanto leitores. Enquanto pessoas privilegiadas e esclarecidas. Sim, porque antes de mais nada, algo precisa ser lembrado aqui: nem todo mundo pode ler um livro. Há uma série de recursos valiosos e necessários para que alguém possa se tornar um(a) leitor(a), e infelizmente, apenas uma pequena parcela da nossa população dispõe de tais recursos.
Uma premissa básica para o hábito da leitura é o tempo. Tão simples e tão escasso. As pessoas, mesmo a pequena parcela mencionada, não têm mais tempo de ler. Ou então não é bem isso. Acontece que, ultimamente, rola um bombardeio de imagens, mensagens curtas com letras grandes, onde quer que olhemos, e acabamos ficando desacostumados a ler qualquer coisa que demande alguns minutos. Sabe a preguiça de ler textão? É falta de tempo; ou falta de paciência.
Viramos crianças pequenas, que precisam de estímulos visuais constantemente para manter o interesse por uma história. Ou sempre fomos assim, sei lá. Será que ficar lendo páginas e páginas de letras fonte tamanho 12 requer algum tipo de dom especial? Pode ser que sim.
Mas nós existimos. Somos leitores. E aí é que tá. Eu me faço vários questionamentos sobre esse papel, de leitora.
Por exemplo, quando vejo um(a) youtuber ou celebridade lançar livro, é mais correto pensar: "que bom! Espero que ele possa influenciar os(as) jovens a adquirirem o hábito da leitura"; do que: "que tipo de frivolidades essa criatura poderia ter a dizer num livro?", que é o que me ocorre na maioria das vezes - perdão! Lançar esse tipo de produto é certamente uma estratégia de sobrevivência mercadológica das editoras, mas creio que não se sustenta por serem leituras "esquecíveis". Não seria melhor investir na disseminação da literatura como forma de entretenimento? É uma ideia que pode ser muito mais explorada do que fazer o caminho inverso, de compactar o entretenimento num livro, porque essa é uma via só de ida e termina numa única leitura.
E quando encaro a possibilidade de baixar um livro pirateado em pdf: é crime e mesquinharia ou é um processo de inclusão e expansão do acesso à literatura? Bom, eu mesma tenho a minha resposta pra isso, e acho que esse debate é muito amplo pra que eu chegue a uma conclusão taxativa. Mas queria listar algumas perguntas: se eu posso pagar, por que não o faria? Se o livro é um trabalho, como pagar por ele? Se existem centenas de livros em domínio público e legalmente disponibilizados em domínio público, por que não me interesso por estes? E, enfim, como eu, consumidor(a) de livros, posso movimentar o mercado editorial?
Vai ser difícil, mas precisa ser feito. Não estamos em tempos que nos deem o luxo de perder a literatura. Salvem-na!
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