Meu pai morreu em agosto de 2008, quando eu tinha 16 anos. E além de lidar com aquela dor, tinha que continuar indo bem na escola. Eu era boa aluna, mas não estava conseguindo estudar algumas matérias sozinha, então pedi a minha mãe que arranjasse alguém para me dar aulas particulares nos meus horários vagos. Pois bem.
As aulas seriam na casa do sujeito, um homem que morava com a mãe idosa. No primeiro dia, correu tudo normalmente. Tinha outro aluno lá, um menino. O cara me ajudou a resolver algumas questões de Física que eu não tinha entendido. No segundo dia, não sei o que aconteceu. Quer dizer, sei o que aconteceu, mas não entendo o motivo.
Na hora que eu estava indo embora, ele disse "você está triste porque seu pai morreu" e me abraçou. Não me abraçou, me apertou. Eu não retribuí, não tive reação nenhuma, fiquei paralisada. Provavelmente porque tinha percebido alguns olhares inadequados, e uma tentativa de aproximação constrangedora. Já havia tomado a decisão, antes do "abraço", de não voltar mais. Naquele dia, estávamos sozinhos. Eu estava sozinha.
Só lembro de responder "eu não quero te abraçar" e sair, enquanto ele ficou me olhando meio assustado e contrariado.
Hoje eu fui almoçar num restaurante com minha mãe, e pegamos um táxi. Hoje eu tenho quase o dobro da idade que eu tinha naquela época. Quando entrei no táxi, senti um cheiro que me transportou diretamente para essa recordação: foi o cheiro que ficou capturado na minha memória como esse assédio patético de uma garota triste que estava de luto. O cheiro de algum perfume masculino tentando mascarar o odor de cigarro.
Ainda bem que foi uma corrida curta, porque eu só queria chegar logo e sair dali. Queria me lavar e apagar qualquer vestígio de lembrança ruim, repulsa, medo, desconforto. Quase uma sensação espiritual mesmo.
Enfim, tomei banho e fiquei em paz. E aposto que o taxista velhinho fumante não é má pessoa, apesar de carregar o cheiro de um trauma meu.
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